imagine

Tuesday, October 24, 2006

Solidão doentia

Noite nefasta, com véu úmido e transparente que cobre a paisagem.
A escuridão caminha sobre meu domínio, me segue e tenta nublar ainda mais minha visão.
O chão é macio, suave, porém cheio de irregularidades.

Aos poucos a luz da lua consegue romper um pouco mais a neblina, que se torna avermelhada e me permite distingüir um pouco mais onde estou.
Ruínas e ruínas rio e começo a me lembrar, nossa há quanto tempo...
Grito a procura de.... alguém? É pode ser...
Mas não há resposta alguma.

Estou percebendo que hoje a Lua é minha amiga, minha parceira e cúmplice. Consigo enxergar minhas mãos, lembro-me estou com "luvas" vermelhas. Minha roupa já cola em meu corpo, há quanto tempo não me troco?
Meu cabelo está duro e arrepiado, estarei de gel? Mas como e quando consegui o gel?

Interessante, estou caminhando só há tempos e não me lembro da luz do Sol!!!
Há tempos que a Lua não se mostra para mim também. Como é bom por enxergar algo novamente. Engraçado esse chão, sempre que tenho fome me dá algo para comer, basta eu abaixar e agarrar algo.Realmente este é meu domínio e aqui controlo tudo!

Posso andar pra onde for, mesmo não enxergando muito sempre sei onde estou e sempre posso voltar a meu trono. acho que devo voltar, lá há um rio onde posso beber algo para matar minha sede!

Uma pequena caminhada e lá estou, de frente ao morro onde no topo está meu assento. Tudo como eu desejo, se quero rápido é rápido, se quero devagar tudo fica lento ou longe.
Eu amo controlar tudo!

Porém a Lua tem vida própria, ela se torna clara apenas quando quer, e hoje está crescendo sua claridade. Sorrio.

Mato minha sede com este líquido que se tornou um pouco viscoso, porém saboroso.
Há como eu queria um cigarro, pena que não existe mais aqui em meu mundo. Tudo desde quando mesmo? Não me lembro mais.

Clareia um pouco mais e vejo meu rio, salvador que mata minha sede, seu líquido rubro que me permite sobreviver...
Vejo também o morro, nossa como ele é lindo! Esse amontoado é maravilhoso. E fui eu quem o construiu. Olho com orgulho!

Esse chão onde piso, todos foram colocados confome minha vontade, degolei, estripei e escalpei um a um. Este é meu mundo e aqui faço o que quero!
Agora consigo ver os rostos, uns com cara de pavor, outros sorriem em paz e outros com uma expressão de medo...

Meu lindo trono, ossos amarrados com tendões, assento e encosto do mais puro couro e almofadado com o melhor tecido adiposo que poderia existir!
Nossa há muito tempo não me divirto, pena que não há mais ninguém aqui para eu brincar.

Agora lembro claramente da última vez que fiz algo de bom, foi quando consegui minha última peça para minha, e por falar nisso, não me lembro onde guardei, mas que seja, minha grande noiva foi completa com aquela face linda de olhar triste melancólico. Frankenstein e Mary Shelley morreriam de inveja, minha noiva morta, onde podia me deliciar de todas as partes que coletei.

É, este é meu mundo, o inferno de pesadelos e tudo está em meu controle. Queria mais alguém para me deliciar vendo a cara de pânico, desespero ao ver meus amigos que forram o chão. Ops...devo dizer, minha comida também, afinal daí que mato minha fome.

Se quiser posso te fazer uma visitinha, entrar em teus sonhos e trazê-lo(la) para meu mundo. Basta ter um pouquinho de medo de me encontrar e lá estarei, com meu sorriso afiado e brilhante junto com meu olhar penetrante e frio. Aí pronto eu te trago e brincaremos e assim nunca mais acordará!

E aí, quer que eu vá te buscar para brincarmos um pouquinho? Pois estou tão sozinho que poderia ir mesmo sem ser convidado...Hehehehe
Que saudade de ouvir gritos e carnes sendo delicadamente fatiadas.
Estou te aguardando...