Resenha do livro ROTA 66
Resenha do livro: “Rota 66”, by Takahashi, Eduardo Shozo
Livro de Caco Barcellos, Ed. Record.
Caco Barcellos, jornalista conhecido por proteger a minoria e relatar suas visões dos fatos, nos faz um convite a entrar em um novo velho mundo; novo, pois é uma realidade diferente a qual estamos acostumados a ver, e velho porque é uma realidade que já existe há alguns anos. Após anos de pesquisas e aventuras por lugares sempre evitados pela maioria das pessoas, consegue um grande arquivo com dados e informações precisas sobre vítimas de tiroteios com a polícia militar.
Inicialmente estava sozinho neste trabalho, porém com o passar do tempo conhece pessoas com a mesma visão e assim acabam por formar uma equipe para a realização deste trabalho. É uma busca incessante de informações e tentativas de chegar o mais próximo dos fatos ocorridos.
O livro, que se divide em três partes, captura o olhar do leitor desde as primeiras linhas que relatam a perseguição do fusca azul na zona nobre de São Paulo. Os fatos retratados no livro parecem que saíram de um filme de ação onde mocinhos e bandidos se confundem e nada é o que parece ser. Divulga uma nova versão para o caso conhecido de Pixote, morto por PMs em uma circunstância um tanto quanto duvidosa, e que também era amigo pessoal de Barcellos.
Apresenta situações por ele vividas como no segundo capítulo “Doutor Barriga”, que conta como fugiu para não ser preso e o medo que sentiu quando a polícia estava próxima a ele “...Para nossa sorte o delegado é um barrigudão. Os pés passaram para o outro lado, mas caíram perto da borda. Assustadíssimos, vemos Doutor Barriga agitar os braços, desequilibrado, e, aos berros, desabar de costas, dentro da vala cheia de esgoto.’Agora eu mato. Eu mato’...”.
Conta muito mais fatos curiosos sobre como os PMs conseguem escapar das acusações de mortes de pessoas inocentes, que não haviam cometido crime algum e forjavam as cenas dos massacres da seguinte forma “...corpos dos rapazes estão sendo arrastados do Fusca para o compartimento de presos da Rota 17, numa violação do local do crime que deveria ser totalmente preservado. Os PMs da Rota 66 encenam um gesto humanitário, uma tentativa de salvar a vida dos rapazes...O tenente não só deixa impedir a irregularidade como participa da encenação.”, “ ...nada justifica a retirada das armas da esquina do crime, antes da chegada da perícia.” Dessa forma impediriam a averiguação e poderiam contar qualquer história para se livrarem das acusações.
Rota 66 é um livro-reportagem que ensina muito sobre o jornalismo investigativo. Que não é simples pesquisar, analisar, guardar e retratar os fatos, pois há muitos empecilhos e pessoas que tentam anular o trabalho. Pessoas que tem interesse em manter certos fatos escondidos e, de preferência, mortos para que não crie mais problemas e nem dúvidas sobre determinadas coisas.
Apesar de tentar mostrar os dois lados, creio que falta ainda assim retratar a visão dos policiais, uma vez que ele mesmo diz “...Assim como a maioria de seus colegas de farda, Bueno é um oficial avesso à violência durante o patrulhamento, postura que aprendeu a respeitar...” não apenas uma vez mas outras ainda. Porém o que mostra, na maior parte do livro, é apenas uma facção dentro da PM conhecida como “Esquadrão da Morte”, talvez por falta do próprio interesse ou até mesmo por dificuldade de conseguir maiores informações dentro da polícia. Porém ainda assim é um livro que deve ser lido, pois acrescenta muito a estudiosos e até mesmo àqueles que procuram novas formas de aperfeiçoamento em escrita e pesquisas.
Caco Barcellos se mostra digno da fama que o precede, de estar sempre ao lado da minoria, das vítimas como ele mesmo diz.